Uma breve análise dos métodos de ensino dos sofistas, de Sócrates, Lacan e Rancière, e suas contribuições para o ensino EAD.




SOFISTA

O ensinar e o aprender desde a antiguidade até a atualidade é a preocupação constante de vários filósofos e educadores.
Na antiguidade os sofistas eram professores viajantes que por determinado valor, vendiam ensinamentos práticos de filosofia, levando em consideração os interesses dos alunos. Posicionavam como detentores do saber e procuravam provocar reações prazerosas nos espectadores, utilizando técnicas de sedução a fim de transmitir o conhecimento.
Em seus discursos apoiavam-se na presença do orador para induzir o espectador por meio de sugestão, a reprodução do pensamento, ou seja, ensinavam conhecimentos úteis para o sucesso dos negócios, não se comprometendo com a verdade e sim com a opinião. Antes de qualquer coisa os sofistas se preocupavam em manejar minuciosamente as técnicas de discurso, de tal maneira que o espectador se convencesse rapidamente do que estava discursando.
Para eles não interessava se o que estavam falando era verdadeiro, pois o essencial era conquistar a adesão do público ouvinte. Devido tais características o sofismo ganhou o sentido de impostor, perdendo o sentido etimologicamente do termo sofista que significa sábio.
Vale ressaltar, que naquela época os sofistas eram os únicos capazes de desenvolver uma cultura geral aprofundada e ao mesmo tempo formar oradores eficazes. A transmissão do saber sofístico corresponderia ao modelo de conferência e da assembléia.
Contrapondo-se à maiêutica de Sócrates, a retórica dos sofistas não se propunha a levar o interlocutor a questionar-se sobre a verdade dos fatos, dos princípios éticos ou dos sentimentos, ao contrário, a retórica busca inculcar no ouvinte ideologias que sejam aproveitáveis para manipulação do povo.
Comparando esse modelo de ensino sofista com a proposta EAD, o professor assume uma postura diferenciada. Uma das funções desse novo tipo de professor é de não entrar na relação com o aluno como aquele que possui o saber, ou seja, é um animador da inteligência e um incentivador da aprendizagem e do pensamento. Ele passa a ter um papel de orientador. O aluno aprende e o professor não ensina e sim orienta o aprendizado do aluno. Ele é o transformador e autor do conteúdo, um mero executor de tarefas, determinadas por equipes de trabalho, mas sim, um importante participante de um projeto comum de formação.
Infelizmente na atualidade existem ainda professores considerados sofista, totalmente detentores do saber, extremamente tradicional, preocupado em transmitir a maior quantidade possível de conhecimento acumulado, não dando a oportunidade de o aprendiz expressar seu próprio conhecimento, fazendo assim um aluno desmotivado, despreparado, recebendo somente informações sugestivas que o impedem de assumir uma postura crítica, diante de uma proposta de transmissão do saber.
É necessário ressaltar que ainda é preciso capacitação, formação de professores para que haja uma conscientização a respeito da educação, como prática social transformadora. Segundo Paulo Freire a educação é um longo processo de conscientização. A consciência é, entretanto, resultado de um processo dialógico entre as práticas socioculturais e políticas e as experiências de vidas individuais, sobretudo nos movimentos de libertação.
Finalizando a Educação a Distância vem contribuir com um processo educativo diferenciado, que não baseia na técnica da retórica. Nesse sentido, ela elimina a facilitação da sugestão na transmissão, cortando, dessa forma, o efeito sofístico que pode causar a presença do orador e a conseqüente emoção causada ao espectador.



Sócrates

“Só sei que nada sei”


Sócrates acreditava que buscando o saber e a verdade os homens conseguiriam ser felizes e para atingir este objetivo utilizava-se do método
da maiêutica para ensinar.
Sua estratégia de ensino se colocava em três partes bem definidas como:
• Convidar o interlocutor para buscar o conhecimento verdadeiro;
• Usava a ironia, investindo no suposto saber do interlocutor;
• E por fim se utilizava da maiêutica.
Sócrates colocava-se em condições de igualdade com seu interlocutor para que assim o conhecimento pudesse ser construído juntamente com o interlocutor se a presença de alguém que apenas transmitisse o conhecimento.

No ensino EAD, encontramos alguns traços da educação proposta por Sócrates, porém neste o relacionamento do educador com o educando na EAD é muito mais voltado para a descoberta, para a busca do conhecimento procurado e com menor interferência que acontecia no método Socrático.
No método usado por Sócrates ele conduzia o pensamento do interlocutor por acreditar que o aprendizado seria uma rememoração. Já no ensino EAD, são disponibilizados materiais de pesquisa e o tutor apenas interage na busca do conhecimento, construindo o conhecimento junto com o aprendiz. Na EAD o que importa é o trabalho desenvolvido pelo aprendiz o tutor apenas o acompanha.







Lacan

Lacan utilizava o imaginário e o simbólico, apreendendo-a em partes, através da linguagem, que se estrutura no inconsciente. Lacan com suas descobertas auxiliavam os homens na busca do saber e da verdade.
Ao tratar do tema O pensamento é inconsciente, Lacan também colocava a origem de toda a realidade do pensamento no inconsciente, que vai se manifestar, num certo momento, junto ás formas de proceder do sujeito.
A tradição filosófica, ao abordar o sujeito pela via da razão, obtém como produto, um ser consistente, isto é, uma substância pensante.
Lacan reafirma, então a divisão do sujeito, pois o inconsciente seria autônomo com relação ao eu. E é no registro do inconsciente que deveríamos situar a ação da psicanálise.
Seu método consistia em um pequeno grupo composto por até quatro pessoas com o objetivo de estudo comum e mais um que outro elemento igualmente interessado e que se encarregava da seleção do assunto, discussão e da solução específica ao trabalho de cada um, sendo um método que aproxima mais da educação á distância.
Os cartéis consistiam em pequenos grupos que se reuniam em torno de um tema onde apresentam características próprias, entre elas a organização do trabalho.Contrariando métodos tradicionais que se apoiam na identificação imaginária de um líder.Partindo desse principio entendemos que o cartel se apresenta como ferramenta de grande valor no ensino a distancia, pois coloca o tutor como mais um aprendiz, colocando-o em condições de igualdade enquanto media as discussões.
Para Lacan a falta gera a busca do saber e na educação á distância, o aluno não precisa saber tudo sendo ele próprio que constrói o seu saber.


Rancière
Creio que Deus criou a alma humana capaz de se instruir por si própria,
e sem mestres” (Rancière, 2002, p. 143).


Rancière é um autor que aposta na idéia de igualdade, da coisa em comum, do que é e o que deve ser para todos igual, ele acredita que igualdade e inteligência são e devem ser sinônimos. Segundo Rancière é preciso inverter a dialética da explicação, do sistema explicador da pedagogia, ou seja, da metodologia tradicional, que faz da explicação um caminho para socorrer o homem da incapacidade de compreender. Tal concepção se diverge da metodologia de ensino EAD, que não enfatiza a explicação como condição primordial para o processo de ensino-aprendizagem, e sim, as interações, a necessidade de buscar algo e a satisfação de querer saber ainda mais.
A invenção da incapacidade do outro revela a origem da figura do explicador. Neste sentido, o explicador e o incapaz constituem, então, personagens inseparáveis de todas as pressuposições pedagógicas, atuais e passadas. Para inverter esta realidade, Joseph Jacotot, filósofo francês, afirma que o aluno se emancipa a partir do momento em que pode aprender, sem mestre, apenas pela tensão de seu próprio desejo. Em sua proposta Jacotot enfatiza a questão da emancipação intelectual, em que o mestre encaminha o aluno para utilizar a própria inteligência. A emancipação se dá quando o aprendiz toma conhecimento da sua capacidade intelectual e resolve empregá-la em situações diversas. A metodologia EAD se fundamenta na emancipação intelectual do indivíduo, diferentemente da metodologia tradicional que intitula a explicação do mestre como norteadora do processo.
Jacotot defende em dois importantes mandamentos o que considera inconcebível na metodologia tradicional; o primeiro mandamento “Não explicarás”, a explicação como mencionada anteriormente reforça a necessidade do Mestre, do transmissor de conhecimentos e reduz em proporção a importância do aluno no processo. Jacotot denomina tal procedimento de “emburrecimento do outro”, colocando o aluno na condição de um ser que precisa de explicações, visto que, ele não pode se explicar a si próprio, senão pela explicação do mestre. Para Jacotot, o mestre tem que se posicionar na condição de ignorante, mostrando aos alunos que ele não tem nada a ensinar, desse modo o aluno não pode ocupar o lugar do ignorante. Ao ensinar aquilo que ignora, o mestre encaminha o aluno para utilizar sua própria inteligência. No ensino EAD o tutor centra no acompanhamento e na gestão da aprendizagem, nunca na condição de detentor do conhecimento ou como um mestre explicador.
Como segundo mandamento Jacotot anuncia “Não compreenderás”. Para ele a compreensão é um ato individual de possessão, um egoísmo de uma razão auto-satisfatória, a outra face – não muito diferente – desse monstro que é a explicação.
Após análise das idéias de Rancière e Jacotor pode-se compreender a metodologia tradicional: primeiro passo, a explicação; a maior desolação imaginável, para o mestre e para o aluno. Forma-se ao mestre para explicar a incapacidade do aluno e forma-se ao aluno incapaz que tem que compreender, inutilmente, a explicação do mestre.
A metodologia EAD descarta a postura do mestre explicador, assumindo a postura do mestre animador de inteligência e incentivador de aprendizagens, rejeita a condição de passividade do aluno, a carência de explicações e a necessidade maciça da presença do mestre, adota a condição de aluno ativo, emancipado intelectualmente, que interage, participa, busca, aprende, produz e transforma.







Por:Angélica, Helen, Lúcia Flávia, Marcia e Maria Helena