quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Artigo- Violência escolar: um problema de todos

VIOLÊNCIA ESCOLAR: UM PROBLEMA DE TODOS


Helen Camilato Lima


RESUMO


O cerne desse trabalho é apresentar a violência na escola como um produto da própria ideologia que essa instituição legitima. As relações sociais baseadas numa hierarquização de poder e força são responsáveis pela disseminação da violência que possui várias faces. O problema social abrange questões ideológicas, econômicas e políticas que se entrelaçam constituindo um só. O papel da família no processo de revitalização social é fundamental. É necessário o resgate dessa instituição, pois juntamente com ela a escola surge como promotora da formação de um cidadão mais humano, solidário e principalmente capaz de atuar, transformando a sociedade, somente assim, é possível vislumbrar um horizonte mais calmo no qual todos possam ver as cores do sol.

Palavras-chave: violência na escola, família e poder.


INTRODUÇÃO

A escola, para as camadas médias da população, pretende ser a continuidade do processo de socialização, iniciado na família.
Nesse sentido, os valores, expectativas e práticas que envolvem os processos educativos são semelhantes.
A violência familiar, sofrida pela criança e o adolescente, tem sido motivo de grande preocupação dos educadores. Apesar de estar localizada, quase sempre, fora dos muros escolares, tal forma de violência interfere significamente no cotidiano escolar. Torna-se cada vez mais freqüente o fato de crianças chegarem à escola vítimas de violência familiar. São diversos os fatores que podem estar relacionados a esta manifestação de violência.



“Quando um ser humano se torna adulto, ele sabe na verdade, que possui uma força maior, mas sua compreensão interna (insight) dos perigos da vida também se tornou maior, e com razão conclui que fundamentalmente ainda permanece tão desamparado e desprotegido como era na infância; ele sabe que na sua confrontação com o mundo ainda é uma criança...” (Conferência XXXV – A questão de uma weltanschauung – uma visão de mundo).



No mínimo, a criminalidade dos pais de uma criança pode gerar nela um comportamento violento, típico de quem procura imitar as ações desses adultos que lhes são próximos. Caso isto ocorra, essa criança tende a transforma-se em adolescente violento, que irá descarregar nos próprios filhos, quando atingir idade adulta, as emoções negativas e violentas vivenciadas ao longo da vida.
Partindo destas reflexões, pode-se detectar que a família tem a competência de contribuir para aumentar ou minimizar os efeitos da violência entre outras sobre seus filhos. Sabe-se, ainda, que a violência na família pode comprometer o desenvolvimento cognitivo das crianças e adolescentes. Tal interferência acaba por acarretar que estas tenham mais problemas disciplinares, piores notas, referências, o que, conseqüentemente afetará a auto-percepção da competência e motivação para as atividades escolares e os vínculos entre eles e escola.






VIOLÊNCIA ESCOLAR: UM PROBLEMA DE TODOS

O tema violência escolar tem circulado pela mídia com uma constância cada vez maior, principalmente por meio dos noticiários das emissoras de TV, o que demonstra a amplitude da violência alcançando até mesmo as escolas: núcleos de educação.
Especialmente a partir da década de oitenta, as diferentes manifestações de violência vem adquirindo cada vez maior importância e dramaticidade na sociedade brasileira. Contudo, a violência escolar, vem se modificando, aumentando seu poder de destruição, para exemplificar tais ações é comum que as escolas sofram: depredações, grafites, agressão aos professores, entre outras.
O que se percebe é uma rebeldia crescente dos jovens que não querem se submeter às regras e normas sociais e familiares.
Em Totem e Tabu, Freud descreve que complexo de Édipo é o inicio de toda organização do indivíduo. É neste momento que as regras são impostas e identificada com mais êxito. O complexo de Édipo surge também como o mito que suscita uma reflexão sobre a questão da culpa e da responsabilidade perante as normas, éticas e tabus estabelecidos por sua sociedade (comportamentos que, dentro dos costumes de uma comunidade, é considerado nocivo e lesivo a normalidade, sendo por isto vista como perigosa e proibida a seus membros).
A fragilidade emocional dessa criança tende a aumentar, ao longo da infância de modo que ao atingir a adolescência, o seu repertorio de reações violentas contra as pessoas que têm o dever de mostrar-lhes a necessidade de obedecer a algumas regras terá atingido o ponto culminante.
Contudo, as crianças e adolescentes que saem de um convívio familiar conturbado para a escola, visam um ambiente sadio e bem organizado, porém esta não é a realidade que o sistema público de ensino oferece. O educando ao chegar neste ambiente se defrontam com uma infra-estrutura caótica, com escolas em estado de abandono: sem iluminação adequada, sem área de lazer, banheiros em estado deplorável, Ao defrontar-se com o ambiente acima narrados, a possibilidade de aumento da violência se torna ainda mais real, amplificando desta forma a proliferação da violência.
Analisando ainda a obra de Totem e Tabu, Freud descreve o mito do pai primeva, que surge como uma figura de poder, que detinha o controle sobre os membros de seu clã. Desta forma, hoje ainda existe esta figura que detém o poder, porém estes são usados na maioria das vezes de forma abusiva e incondicional, a ponto de beneficiar somente a uma pequena parcela da população.
Cabe ao governo dar condições adequadas de ensino, isso vai desde os recursos físicos até os humanos.
É evidente que ambientes que não permitem um prazer estético, são desagradáveis e desvalorizados, ocasionando o stress. Trazem ainda uma carga simbólica que representa uma desvalorização social da comunidade e todos os seus membros. Ambientes abandonados são um empecilho para o desenvolvimento de regras de competição, cooperação e de pertencimento a um grupo social. “Como se sentir valorizado, respeitado, importante para a sociedade quando o lugar onde vive ou passa a maior parte do tempo é tão abandonado e feio?” (LUCINDA et al, 1999).
Diante de todo o exposto, Freud com sua teoria do desamparo, confere que crianças e adolescentes ficam desfavorecidas de todas as formas, a família não supre a demanda de educação e conforto e, por conseguinte o estado como figura de poder mantém suas lacunas em aberto, possibilitando um ambiente nocivo para a sociedade.
É decorrente casos de violência escolar, temos como exemplo o fato ocorrido em Suzano, cidade do estado de São Paulo, onde uma professora foi agredida por um aluno depois de ter colocado o mesmo para fora da sala. Houve discussão e ela ficou com um grande hematoma no olho esquerdo, demonstrando desta forma total desequilíbrio dos educandos e fragilidade das famílias em lidar com as questões que norteiam a educação de seus filhos.
A lógica que permeia essa cultura de violência está intimamente relacionada a um sentimento de medo, fundado na idéia, amplamente difundida, de que a violência está em toda parte e que, para enfrentá-la, é preciso poder para defender-se. Essa dimensão ritual e lúdica da violência permite um distanciamento subjetivo com relação ao medo, ao mesmo tempo em que serve como instrumento para a reprodução de uma cultura de violência.
Dessa forma, mesmo sendo uma modalidade de violência cujas raízes situam-se além dos muros da escola, observa-se que ela afeta a vida escolar cabendo, portanto, a instituição buscar alternativas que possam transformar as relações que lá se estabelecem.


CONCLUSÃO

O primeiro passo para que se efetive um processo de mudança social, é a união entre Escola e Família, pois se trata de uma formulação dos valores e condutas que deve ser objetivo dos trabalhos desenvolvidos por estas duas instituições sociais.
A superação da violência nas escolas depende da recuperação da legitimidade do espaço escolar como uma das instâncias de socialização e formação cultural na sociedade moderna. Isso demanda uma revisão da escola, construindo novos vínculos entre alunos, comunidade e professor.
No que se refere a violência escolar, muitas questões demandam políticas sociais que ultrapassam o poder de intervenção das unidades escolares. Naturalmente, faz-se necessária uma luta política em torno da defesa da educação pública de qualidade para todos, o que se dá, em grande parte, no âmbito dos movimentos mais gerais da sociedade. Segundo Galvão citado por Ceas contudo, acreditar também na possibilidade de investir em pequenas ações que reconfigurem o espaço escolar como um lugar agradável, significativo e democrático. No mínimo, os profissionais da educação devem buscar compreender o que os alunos querem dizer quando se submetem à cultura da violência na sala de aula, corredores e adjacências das escolas.
Mas ainda, é necessário investigar qual o peso do aparelho escolar na produção da violência. Sem desmerecer a complexidade do problema, as escolas podem tomar iniciativas com o objetivo de construir novos arranjos institucionais e pedagógicos nos quais alunos, professores, família e comunidade sintam-se mais identificados e realizados.


REFERÊNCIAS


FREUD, Sigmund. Conferência XXXV: a questão de uma Weltanschauung. SI: 1933, 04 p.


FREUD, Sigmund. Totem e tabu e outros trabalhos. Frankfurt: Fischer, 1999, 147p.


WIKIPÉDIA, a Enciclopédia Livre. Complexo de Édipo. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Complexo_de_%C3%89dipo Acesso em 21 out. 2010.


LUCINDA, M. C., NASCIMENTO, M.G, CAUDAU, V. M. Escola e Violência. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.


REGIONAL, Jornal. Veja os casos mais recentes de violência nas escolas. Portal Terra". Disponível em: http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI1740995-EI306,00.html.Acesso em 21 out. 2010.


CADERNO DO Ceas. Nº 188, Julho/ Agosto de 2000.

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