UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO- UFES
Maria Helena Martelete
Paixões e Psicanálise
Dimensões modernas da natureza humana
(Francisco Verardi Bocca)
Trabalho apresentado pela aluna Maria Helena Martelete, como trabalho de conclusão da matéria Paixões e Psicanálise, a qual faz parte do currículo do curso de Pós Graduação em Psicologia e Psicanálise da Universidade Federal do Espírito Santo.
Novembro 2010
Resumo
Este trabalho é uma revi~so comentada do livro do autor Francisco Bocca, utilizado como material didático no curso de Pós graduação em Psicologa e Psicanálise da Universidade Federal do Espirito Santo- UFES, a qual expõe os conceitos da mecanica do desejo e a imaginação como fundamento do desejo de Hobbes, na mecanica do prazer e materia e sensibilidade de Condillac, no principio do prazer e qualidades psíquicas de Freud. Freud relacionou o funcionamento psíquico ao “mecanismo do prazer” lhe atribuindo como propósito a inclinação para a fuga da dor; para atingir a meta de se evitar o desprazer.Condillac foi responsável por uma espécie de ponto de inflexão da perspectiva que deu origem a noção de prazer e desprazer, particularmente na obra tratado das sensações, de 1754. em função de sua importância de Condillac, suas teses são expostas tomando como ponto de partida da concepção acerca da construção sensorialdo pensamento e de suas faculdades, assim como Hobbes e Locke ele está presente no campo teórico das concepções de Freud, o que proporcionou a Freud a oportunidade de instrumentalizá-la e ressignificá-la, dando assim condições para que finalmente possa promover o diálogo da filosofia moderna com a psicanálise Freudiana, para que a psicanálise seja compreendida como uma possibilidade dos desdobramentos da teoria das paixões na modernidade.
Palavras – Chave: Paixões, sensações, prazer/desprazer
Paixões e Psicanálise
Dimensões modernas da natureza humana
(Francisco Verardi Bocca)
Por: Maria Helena Martelete
(Bióloga, Pós graduanda em Filosofia e Psicanálise)
Para Hobbes a causa da sensação é o corpo exterior, ou seja, que pressiona o órgão próprio de cada sentido e é parte do presente já a memória parte do passado, acredita que primeiro vem o desejo depois o amor.
Condillac sustenta a origem sensorial do conhecimento além de definir como simples as idéias de prazer e dor, e que seriam a causa de nossas ações e visam promover a fuga da dor. O par prazer / desprazer é considerado como crivo funcional dos pensamentos e ações , com o diferencial de que o desprazer / dor / inquietação ocupam um lugar predominante em relação ao prazer / deleite, contudo a importância é sempre atribuída ao par já que o fato de ser considerado concomitante às demais idéias imprime nelas marcas diferenciadas que possibilitem pela memória e pela imaginação evitar experiências e objetos causadores de desprazer proporcionando de maneira derivada e adicional a conservação do organismo.
Acredita que os nossos conhecimentos e todas as nossas faculdades vêm dos sentidos, ou para falar mais exatamente, das sensações, porque na verdade, os sentidos não são, senão causa ocasional. Eles não sentem só a alma sente ocasionada pelos órgãos e é das sensações que modificam que ela tira todos os seus conhecimentos e todas as suas faculdades.
Condillac também relacionou diretamente a percepção à consciência, chegando a confundi-las. Para ele a distinção é apenas uma questão de enfoque, pois o dado sensível é percebido enquanto afecção, já enquanto reconhecido pelo espírito é consciência dessa forma a faculdade da atenção foi instituída na medida em que diante de uma ou várias percepções o espírito se ocupa ou se detém em uma delas, ou ainda em cada uma individualmente, sendo seu reconhecimento, nos casos em que se repete e é por ele descrito como ação de memória. Entendia que a experiência presente e intensa e que a experiência passada é menos intensa.
Freud no inicio do século XIX, um projeto onde estudaria a psicologia cientifico – naturalista, onde procura relação entre o sistema nervoso com os processos psíquicos, e para isso assumiu o objetivo de apresentar processos psíquicos como estados quantitativamente determinados em partes materiais capazes de serem especificadas, admitiu a relação inicial entre quantidades (de cargas ou impulsos ) e neurônios (sistema nervoso).
Esse projeto teve como base a lei geral do movimento, a lei da inércia que diferencia atividade de repouso, assim partindo do principio da inércia nervosa Freud reconheceu que “o neurônio aspira libertar-se de Q.” a partir daí foi possível investigar a arquitetura e desenvolvimento do neurônio e seus desdobramentos uma espécie de gênese das faculdades mentais apontando para peculiaridades da noção de prazer nela implicada. O ser humano é dotado de um sistema nervoso cuja arquitetura seria organizada em torno do exercício da função de manter a variação de estímulos recebido próxima ou igual a zero, para que essa função tenha sucesso, quando uma porção sensorial é impactada por estímulos externos aumentam –se as providencias que prontamente os anulam escoando-os inicialmente pela atividade motora.
Para Freud o sistema nervoso era composto por apenas um conjunto de neurônios que foram chamados de phi e psi que permitia um percurso para a excitação que vai da extremidade perceptiva a motora do sistema,no entanto a diversidade de fontes de excitação acabou sendo responsável pela constituição plena do que ele chamou de aparelho neurológico, com funções de percepção, memória e consciência. Apresentou ainda hipótese inicial de uma arquitetura neuronal concebida a partir de um sistema nervoso primário que exerce funções sensoriais e motoras por meio de movimentos arco- reflexo, onde o principio inércia, movimento e reflexo atuam numa combinação necessária e suficiente, visando exercer a função primaria do sistema nervoso de manter-se livre de estímulos. O sistema nervoso recebe estímulos do próprio elemento corporal, estímulos endógenos que devem ser igualmente eliminados , e desta forma não passaram pelo simples escoamento, pois estão relacionados às necessidades da vida, a sua conservação ou manutenção e por isso sistema nervoso passa além de admitir , promover o armazenamento de parte desse estímulo e assim administrá-lo de modo a ser utilizado para provocar alterações na realidade que atendam às suas demandas, e para isso precisará de funções auxiliares.
Seguindo a lógica da descrição de sua gênese o ainda incipiente aparelho neurológico encontra uma maneira de utilizar favoravelmente os estímulos, de inicio hostis ao seu interesse primário, o que será efetivamente conquistado por meio de funções suficientemente eficazes para isso, provocando transformações ao longo do percurso trilhado no interior do sistema nervoso. Freud ainda admitiu a existência de duas classes de neurônios , compostos de células perceptivas e de células recordativas que estão diretamente relacionadas com a quantidade de estímulos que os neurônios estão submetidos, bem como os circuitos de descargas que escoam. Devemos admitir que Freud com essa pesquisa ofereceu suporte para as intuições de Condillac.
Freud reconheceu a existência de dois sistemas de neurônios o phi e o psi responsáveis pela percepção e memória respectivamente. Isso decorrente intensidade das Qs a que são submetidos, a maneira de um percurso seqüencial de sensações transformadas que causam efeitos diferenciados em cada momento e estágio de seu percurso no tecido neuronal.
Do ponto de vista quantitativo como Hobbes, Locke e Condillac, Freud também respondeu à questão qualitativa acerca da constituição das funções mentais ou psíquicas, das motivações das nossas ações, dos motivos para preferir ou ordenar uma cadeia de idéias ou ação a outra, para passar da indiferença à atenção, do repouso ao movimento etc.
Conclusão
Condillac, Hobbes e Freud, em seus estudos conseguiram fazer a relação entre paixão desejo, prazer e desprazer, a relação entre as funções físicas e psíquicas e como a quantidade de impulsos a que o cérebro fica exposto e sua constância podem afetar a constituição das funções mentais ou psíquicas, podendo assim definir a natureza das reações e ações diferentes a cada estímulo. Investigação acerca do campo teórico que possibilitou a Freud conceber a hipótese de que os processos mentais, conscientes ou inconscientes, teriam como propósito dominante esforçar-se por evitar a dor e buscar o prazer, enfocando o período moderno no pensamento de Hobbes e Locke no século XVII e de Condillac no século XVIII, momento em que a noção de vida passional ganhou de fato uma nova configuração da qual, em alguns aspectos, a psicanálise de Freud seria herdeira direta.
Bibliografia:
Bocca, Francisco Verardi, Paixões e Psicanálise, Dimensões modernas da natureza humana, UFES, 2010
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